A Clínica Médica de Serralves tem vindo a desenvolver-se com base num modelo biopsicossocial. Este decorre no fundo da concepção de saúde difundida pela OMS: um estado de bem estar físico, mental e social. O seu ideal é o de uma “mente sã em corpo são”. Tanto ao nível da avaliação como da intervenção, perspectiva corpo e mente numa unidade de conjunto. Tem em vista a obtenção de um equilíbrio, uma harmonia entre o somático e o psíquico. Recorre para o efeito não somente à medicina, mas também à psicologia e à reeducação.
Em termos clínicos, está estruturada de momento em duas grandes áreas (com dois números de telefone independentes entre si):
- Medicina e profissões da saúde complementares (“paramédicas”):
- Psicologia clínica
Ao nível da primeira, conta por agora com profissionais dos seguintes âmbitos:
- Medicina
- Terapia da fala
- Psicopedagogia clínica
- Terapias expressivas
- Terapias orientais
Ao nível da segunda, pratica as seguintes abordagens:
- Psicoterapia individual clássica
- Aconselhamento psicológico
- Hipnose clínica e hipnoterapia
- Terapias de grupo, nomeadamente a terapia familiar e o psicodrama
Mas a clínica tem também a formação em si no seu objecto social, podendo eventualmente contar com a colaboração de outros profissionais tal como o educador e o professor do ensino especial.
Posto isto, a clínica jamais se demite da centralidade da sua vocação, a qual decorre antes do mais de ser em primeiro lugar uma CLÍNICA MÉDICA.
Não obstante, procura-se ali proceder a uma actuação concertada, com uma coordenação efectiva, conseguida através de múltiplos meios – desde reuniões para apresentações e debate de casos em comum até atendimentos conjuntos quando se justifique, passando por formações conjuntas (daí uma área de eventos em expansão) e sem esquecer a articulação e parceria com unidades clínicas exteriores. Cada paciente há-de portanto beneficiar duma tal abordagem partilhada.
As dificuldades de aprendizagem são um bom exemplo: os pacientes têm com frequência problemáticas psíquicas densas, afectando não somente a sua socialização e auto-estima como igualmente a sua cognição e linguagem, e havendo não raramente défices posturais e psicomotores associados. Poderá justificar-se em tais casos uma coordenação de esforços entre médico, psicólogo, terapeuta da fala, psicopedagogo, psicomotricista e até fisioterapeuta ou mesmo terapeuta ocupacional, por vezes um arteterapeuta, um professor do ensino especial... poderá inclusive beneficiar de um grupo terapêutico que eventualmente venha a ser constituído. O mesmo se poderia dizer das perturbações da linguagem e da comunicação: evidentemente que o terapeuta da fala é aqui de importância primordial, mas quantas vezes em contexto escolar tais dificuldades se traduzem igualmente por perturbações da aquisição da linguagem escrita, nomeadamente dificuldades de leitura e escrita, a justificar a actuação do psicopedagogo clínico, ou quantas vezes o próprio professor do ensino especial, já sem falar do médico, cujo receituário não raro faz a diferença, ou do psicólogo, que é muitas vezes o único que consegue obter a superação de determinados bloqueios. E que dizer da patologia depressiva, que além de uma medicação específica requer igualmente uma abordagem específica ao nível da psicoterapia, e pode beneficiar com vantagem de abordagens musicoterapêuticas, acupunctura e tantas outras? Sabemos que há muitos equivalentes depressivos de expressão somática, a nível reumatológico e gastroenterológico designadamente – casos estes em que poderá pontualmente ser adequado contar-se com a colaboração de outros profissionais, em parceria com a clínica enquanto tal - caso do fisioterapeuta, do nutricionista, etc.
Aqui fica então esta proposta integradora de uma abordagem global e abrangente sempre guiada pela especificidade do caso: não há doenças, há doentes – nada de mais verdadeiro nesta área. Entre nós, é a especificidade de cada caso em concreto que dita a estratégia da abordagem, que se quer personalizada e congruente com a individualidade de cada pessoa. Eis o perfil duma clínica médica na qual a medicina, em vez de “orgulhosamente só”, se orgulha pelo contrário de ser ciência e técnica, mas de ser arte também, capaz de se articular com outros ramos da clínica e com outros ramos do saber.